Entrevista feita pelo jornalista Felipe Caixeta, você pode conferir esta matéria e muitas outras em nosso jornal Força da Massa. ( Clique aqui para ler o jornal )
Quando o senhor chega ao Brasil?
Eu nasci em 29 de outubro de 1916, vou fazer 100 anos. Chego no Brasil com menos de 10 anos, morava em Olaria, a casa ainda está lá. Meu pai atravessou o oceano 14 vezes, até que conseguiu convencer minha mãe de vir. Eu estava na casa da doutora Hercília de empregado, eu era pequeno, tinha que trabalhar. Fale sobre a sua família. Eu sou da família dos Seixas, meu pai se chamava José do Cabo, minha mãe Maria das Graças, viemos de Chaves, mas eu nasci nas Açoreiras, uma aldeia perto de Águas Frias. A família era de lavradores, meu pai gostava tanto do Brasil, de ano em ano ele vinha, minha mãe ficava chorando, até que um dia a minha madrinha morreu e então resolveram vir. Na minha aldeia os lobos vinham pegar caça dentro de casa, eles olhavam lá de cima da Serra da Estrela. Meu avô materno José Alves era alfaiate, estudou na França. Meu avô paterno, Caetano do Cabo, tinha sete filhos e um se chamava Domingos, que era uma pessoa das mais inteligentes do lugar. Naquele tempo se chamava almude, raza, cântaro de água e o meu tio transformou aquilo em litros. Fui batizado por causa desse meu tio e eu não fiquei atrás dele em sabedoria.
Como se tornou padeiro?
Entrei para a panificação por acaso, eu era um garotinho pequeno, comecei ajudando, de repente passei a ser chefe. Era uma padaria em Olaria, Padaria Bussaco, tinha meus 15 anos, eu aprendi com papai do céu, eu era sobrinho do Domingos. Comecei no balcão e depois vi que havia muita falta de padeiro, passei para esse lugar. Fui profissional daquela firma grande, Plus Vita.
O senhor participou do sindicato?
Fui chamado para a direção do sindicato dos padeiros. Eu estou esquecido. Queriam que fosse diretor, mas eu saí fora, ficaram outras pessoas no meu lugar, na Presidente Vargas, perto do Campo de Santana.
O que o senhor fazia quando não estava trabalhando?
Eu jogava muita bola no Guarani, no Drummond. Tinha muitos padeiros jogando, mas um time formado do sindicato não me lembro. Domingo meu descanso era futebol, era goleiro do Olaria, em uma bola difícil chutada em cima de mim, acabei machucando o braço, o Castilho entrou no meu lugar. Depois que me estabeleci, abandonei o esporte.
Então de padeiro, o senhor se estabeleceu como dono de padaria?
Eu ganhava muito dinheiro como padeiro, aí me estabeleci. Minha primeira padaria foi a Alhambra em Olaria. Fui dono da Padaria São Domingos, onde conheci a minha esposa Selma, ela trabalhava no caixa. Minha padaria ficava lotada, fazia pão que ninguém sabia, agora era época de folar, um pão que se faz em Portugal. Eu tive a São Domingos em Turiaçu, a São Cândido em Vilar dos Teles e a Panificadora Madureira. O primeiro forno contínuo que apareceu em Madureira fui eu quem inaugurei. Na São Domingos tinha forno contínuo subterrâneo com três andares, eu descia uma escada para fornear a massa embaixo, era à lenha, botava na fornalha, ficava queimando sempre, a labareda se espalhava e esquentava o forno.
O pão de hoje é diferente do tempo que o senhor trabalhava?
O pão não existe mais conforme era, porque não fazem o fermento como deve. Tem que ser feito o primeiro isco, segundo isco, terceiro isco, para depois fazer a massa. Para fazer a massa, tem que começar cedo, para sair às 4h da tarde, tem que começar quando for 2h da manhã, fazendo a fermentação. Esse pão de hoje eu não gosto não, a farinha é a mesma, mas a maneira de fazer não é igual. Eu estou com 100 anos, a minh