A busca crescente por uma alimentação mais natural, orgânica e livre de aditivos químicos tem chamado a atenção de empreendedores dispostos a investir. No ano passado, o mercado brasileiro de alimentos e bebidas saudáveis alcançou R$ 93,6 bilhões em vendas, o que colocou o país na quinta posição no ranking dos gigantes desse setor. Entre todas as categorias do segmento, a de orgânicos foi a que teve o maior avanço dos últimos cinco anos, de 18,5%. Os dados são de um estudo da agência de pesquisas Euromonitor Internacional publicado em fevereiro deste ano.
O crescimento do comércio de alimentos naturais impressiona no Brasil. Nos últimos cinco anos, as vendas avançaram a uma taxa média de 12,3% ao ano, enquanto no resto do mundo o percentual ficou em torno de 8%. A previsão é que o mercado brasileiro de produtos saudáveis cresça anualmente 4,4% até 2021 – números que comprovam que a crise passa longe deste setor.
Outra pesquisa confirma o otimismo dos empreendedores que já atuam no mercado com produtos sem açúcar refinado, glúten, lactose ou aditivos químicos. O relatório Tendências Mundiais de Alimentação e Bebidas 2017, elaborado pela agência de pesquisas Mintel, mostra que quatro em cada cinco brasileiros estão dispostos a gastar mais se o alimento tiver maior valor nutricional. O documento revela ainda que 79% dos entrevistados já substituem produtos convencionais por outros mais saudáveis; 44% dão preferência a produtos sem corantes artificiais; e 24% dos adultos brasileiros comeriam mais grãos integrais, como linhaça e quinoa, se soubessem como utilizá-los no dia a dia.
Clientes procuram maisfrutas, verduras e legumes
Donos de restaurantes, bares, lanchonetes e padarias do país também notaram as novas exigências dos consumidores, como mostra a pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha para a Associação das Empresas e Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert). Entre os 4.560 comerciantes entrevistados, 53% notaram um aumento na procura por frutas; 61% observaram que os clientes estão comendo mais verduras e legumes e 65% relataram que cresceu o consumo de sucos naturais.
Em Florianópolis, a Escola Natural Chef oferece formação para profissionais que queiram empreender ou atuar na área da alimentação saudável e funcional. Idealizado pela nutricionista Cris Tozzo, o curso está com todas as 60 vagas preenchidas e uma fila de espera de 180 pessoas de todo o Brasil.
— O consumidor criou essa demanda, por conta da informação, e a indústria está tendo que se adaptar. Até mesmo os restaurantes e a indústria tradicional vão ter que começar a oferecer opções sem glúten, sem lactose, vegetarianas, orgânicas e sem açúcar — defende a nutricionista.
De olho no potencial do mercado da alimentação saudável, muitos empresários estão investindo todas as fichas nesse nicho. A coordenadora regional do Sebrae/SC na Grande Florianópolis, Soraya Tonelli, observou que muitos jovens têm buscado a orientação do Sebrae no desenvolvimento de um plano de negócios no setor de alimentos e bebidas saudáveis.
No entanto, por mais que o cenário seja otimista para quem quer empreender nessa área, a coordenadora ressalta que é preciso planejamento e conhecimento em gestão financeira .
— Esse nicho da alimentação saudável já tem tendência de consumo, então o empreendedor dessa área já está surfando numa onda de mercado latente. Mas isso não quer dizer que o negócio não tenha riscos. O risco é inerente a qualquer negócio e sempre tem que ser calculado — pondera Tonelli.
Sem conservantes nem sinais da crise
A educadora física Kátia Jungmann e o marido, o diretor de cinema Pedro Jungmann, sempre sonharam com um negócio próprio na área de panificação artesanal e confeitaria, mas não tinham experiência em gastronomia nem certeza sobre o tipo de produto a oferecer.
— Perguntei a uma amiga confeiteira que produtos ela vendia. Ela respondeu que fazia todo tipo de doces, menos sem glúten. Aquilo não saiu mais da minha cabeça — releva o empreendedor.
Depois de alguns meses pensando sobre o assunto, Kátia decidiu fazer um curso de panificação sem glúten em São Paulo. Assim que retornou, o casal investiu R$ 150 mil em uma pequena fábrica de pães. Kátia ficava na produção e Pedro, nas entregas.
Cerca de três anos depois, a ideia inicial se transformou em um grande negócio. Pedro e Kátia abriram a padaria Glúten Free, na Lagoa da Conceição, para atender diretamente o consumidor, já possuem sete funcionários, vendem 4 mil pães por mês, contam com clientes em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná e veem seu faturamento crescer, em média, 20% ao ano.
A padaria já oferece mais de 15 tipos de pães, além de cucas, bolos e muffins. A preocupação do casal de empreendedores não é apenas com o glúten. Todos os produtos são elaborados com açúcar mascavo ou demerara e não contêm qualquer tipo de aditivo químico. Os ingredientes frescos utilizados nos pães, como rúcula e espinafre, são orgânicos. O sucesso da Glúten Free foi tão rápido que nunca se cogitou investir em divulgação, tampouco houve preocupação com a crise econômica.
Outro empreendimento que nunca sentiu os sinais da crise foi o Saladices. A ideia do espaço de fast food saudável surgiu em uma viagem a Nova Iorque, onde o empreendedor João Neto notou que havia várias opções de comida natural. Ao voltar a Florianópolis, sentiu-se frustrado por não encontrar opções mais leves nos restaurantes que costuma frequentar, como saladas e grelhados.
Junto com outros dois sócios, Renato Ramos e Arthur Oliveira, João investiu R$ 300 mil no Saladices. Em três meses de funcionamento, o espaço já começou a dar lucro e ter filas na hora do almoço. O restaurante oferece saladas acompanhadas de proteínas, sucos e sobremesas com ingredientes frescos, leves e orgânicos. Em breve, com a chegada do inverno, serão servidos produtos quentes, café e lanches para o meio da tarde.
Hoje, já são duas lojas em funcionamento, outras duas a serem inauguradas ainda nesse semestre, além da venda de franquias em todo o Brasil que deve começar em breve, segundo os empresários. O trio estima que o faturamento apenas com as lojas chegue a R$ 7 milhões neste ano.
por Juliana Gomes (Diário Catarinense)
24/04/2017
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