O ramo das panificações é uma excelente opção para o jovem empresário que está disposto a abrir o próprio negócio. O setor está aquecido e cresce em média 10% por ano, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). Em outra pesquisa, divulgada esta semana pelo Sebrae – GO mostra que montar o próprio negócio está entre os três maiores sonhos do brasileiro. O documento sintetiza os principais tópicos abordados na publicação GEM – Global Entrepreneurship Monitor: Empreendedorismo no Brasil 2012.
Segundo estimativas levantadas pelo Índice de Confiança dos Pequenos Negócios no Brasil publicado pela mesma instituição, o momento é favorável porque o setor empresarial está estável. O comércio registrou em abril deste ano, desempenho superior ao observado no mesmo mês do ano passado, o que dá uma margem de três meses de otimismo para o empresariado.
“O importante é o diferencial”, analisa a gastrônoma Stella Romanholi. Ela é professora e proprietária da Boleria Artesanal. No local, ela reúne o Espaço Gourmet onde cozinha para seu buffet e leciona gastronomia, e a oficina de bolos, especializada em atender clientes com restrições alimentares. “Fazemos bolos normais mas nosso diferencial são as receitas especiais sem glúten, açúcar, lactose. Fazemos o bolo para o cliente, como ele gosta. Eu brinco que fazemos bolos sob medida porque aqui o cliente escolhe. Se quiser um individual, fazemos de um tamanho apropriado. A intenção é oferecer um bolinho familiar, que lembra aqueles que a avó da gente faz. Me inspirei numa casa francesa para decorar o espaço”, conta.
A criatividade de Stella, direcionada para a produção de pedidos específicos dos clientes, conseguiu uma identificação com seu público e resultou num novo empreendimento de sucesso. “Com apenas três meses de funcionamento posso dizer que tenho um negócio. Que não estou brincando de fazer bolo”, diz a gastrônoma.
Stella conta ainda que abriu o Espaço Gourmet a cerca de um ano, daí surgiu a ideia da Boleria Artesanal. “Goiânia está cheia de bolerias e padarias que vendem bolos de receitas prontas (aqueles que se compra em pacotes no supermercado), em embalagens inapropriadas. A ideia surgiu para dar uma opção saudável para o cliente goiano. A proposta da casa é servir alimentos equilibrados e saudáveis. Comércio de alimentos todo mundo pode fazer, mas com charme, amor e dedicação não é qualquer um que faz”, ressalta Romanholi, acrescentando que junto com cada pedaço de bolo, serve um chá orgânico preparado com ervas da horta que ela mesma cultiva.
DEDICAÇÃO
Dedicação também faz parte das qualidades fundamentais de um empresário, segundo Aguimar Silva, conhecido como Neguinho, da Biscoitos Neguinho. Ele conta que começou trabalhando atrás de um balcão há 24 anos, quando percebeu que o que ele fazia, podia ser feito melhor. “Quando fui trabalhar numa lanchonete aprendi a arte do bom atendimento. Descobri que eu seria um bom vendedor vendendo pães de queijo com cafézinho. Destaquei-me principalmente, pela maneira como tratava o cliente. Hoje dou palestras, a nível nacional, sobre motivação, qualidade da mão de obra e atendimento”, conta o empreendedor que já esteve também em programas de televisão como o Fantástico, Bem-Estar e Programa do Jô.
Só nos últimos seis anos o setor panificador brasileiro dobrou seu faturamento, passando de R$ 34,9 bilhões, em 2006, para R$ 70,2 bilhões ano passado, segundo a Abip. Os números também mostram que a panificação no País cresce superior a 10% desde 2007, o segundo melhor ano, com 13,30% (superado por 2010, com crescimento de 13,70%). Em 2012, o setor cresceu 11,6%, em relação a 2011.
MODERNIZAÇÃO
A modernização do setor e a diversificação dos produtos são apontados como fatores responsáveis pelo aquecimento do comércio das panificações. Stella concorda que o progresso da atividade acompanhou o avanço tecnológico para o segmento que segundo ela está mais moderno e estruturado. Porém no seu caso, considera ter sido fundamental o investimento em capacitação.
A gastrônoma aposta na profissionalização: “Estou terminando minha pós (graduação) na área de Nutrição. Você pode ter o dom, mas se não tiver técnica, será apenas mais um no mercado.”
Aguimar não teve a oportunidade de estudar, mas dedicou 24 anos da sua vida a oferecer o melhor atendimento para os seus clientes. “Eu sou o exemplo do brasileiro que sonhava em ter seu próprio negócio e acreditou que era possível. Usei os obstáculos para crescer o hoje posso dizer que valeu a pena. Em apenas cinco meses de empresa, obtivemos 900% de crescimento. Hoje, trabalhamos com 14 funcionários e vendemos cerca de 900 salgados individuais por dia”, contabiliza.
Os números de Flávio Augusto Rosa também são bons. Ele é proprietário de uma lanchonete próxima ao Terminal da Praça da Bíblia e conta que em dois anos de negócio, já aumentou sua produção em 300%. Flávio afirma que é só o começo de um empreendimento projetado para se tornar uma rede. Para abrir o espaço, idealizado por ele e sua esposa, eles realizaram pesquisa de mercado de descobriram que a região era carente de opções de alimentação de qualidade. Ele inclusive atribui o sucesso de seu investimento aos cuidados com a qualidade de produtos e atendimento ao cliente.
O empresário conta que quando começou o negócio só tinha cinco funcionários e hoje conta com 15. “Levei um certo tempo para conseguir montar minha equipe mas hoje, entre salgadeiros, padeiros e auxiliares, considero ter formado o time ideal. Fazemos diferente no atendimento e na qualidade. O essencial para o nosso sucesso é a constante fiscalização desses quesitos”, comenta.
A intenção de Flávio Augusto e sua esposa é aumentar a atual lanchonete, “por enquanto”, e abrir uma filial em Senador Canedo. “Isso é solicitação dos próprios moradores que já são meus clientes aqui e reclamam que lá não há opções de lanche tão gostosas como aqui”, afirma.
JOGADAS DE MARKETING
Para atrair a clientela, os empresários se utilizam de recursos de marketing responsáveis por esquentar as vendas. Flávio Rosa, por exemplo, lançou em sua lanchonete o cartão fidelidade por meio do qual o cliente pode ganhar um salgado ou um suco de laranja, após completar a cartela de carimbos. Cada marca corresponde a um gasto superior à R$ 5 no estabelecimento. “Isso estimula o cliente a gastar mais. Às vezes a pessoa vai consumir só R$ 3 e resolve comprar mais um pouco para participar da promoção. Além de fortalecer a marca, que nós estamos registrando”.
Na ocasião da entrevista, o local estava todo enfeitado e colorido de bandeirolas. Outra jogada de marketing do proprietário: fazer um Arraial oferecendo pamonha, curau, canjica e pé-de-moleque, excepcionalmente, em comemoração típica do mês da festa junina. Os funcionários, todos caracterizados, integravam o clima festivo.
A gastrônoma Stella não ficou atrás na criatividade. Atrair um público seleto, que busca por produtos específicos, orgânicos ou próprios para quem tem algum tipo de restrição alimentar acabou conferindo um nível de sofisticação ideal para “uma casinha de chás”. Resultado perfeito da pretensão da dona, que garante: “Estamos tendo mais sucesso do que era esperado.”
O estilo de Neguinho é conhecido na Capital goianiense. Por ter trabalhado a vida toda numa lanchonete tradicional da cidade, Aguimar, com seu jeito excêntrico e simpático de atender a clientela, se tornou quase que um personagem urbano de Goiânia.
Com essa estratégia ele lançou sua marca antes mesmo de seu negócio existir. Agora, empresário há apenas cinco meses, se sente satisfeito por ter acreditado no sonho do empreendimento próprio. “Fico satisfeito comigo mesmo. Com o que consegui alcançar com tanta luta. Quero dar o exemplo pros jovens de que é preciso sonhar. Porém, correr atrás é o mais importante. Tive muitos obstáculos, mas hoje eu vejo como foi bom eu não ter desistido, para enfim continuar lutando”, diz.
Fonte: Diário da Manhã