Carlos Jorge dos Santos Silva, secretário geral do STINPAN, encontrou diversas irregularidades na
fábrica carioca do gigante mundial da panificação
Após receber denúncias, a diretoria do STINPAN realizou três dias de vistorias na fábrica da Bimbo no Rio de Janeiro, entre 13 e 20 de março de 2016. Durante as diligências, o secretário geral do sindicato, Carlos Jorge dos Santos Silva, verificou diversas irregularidades em curso, que prejudicavam e traziam riscos aos trabalhadores dos três turnos de funcionamento da empresa.
Operários do turno da noite obrigados a abrir mão da folga semanal e a trabalhar 14 dias ininterruptos, ajudantes de produção responsáveis por máquinas e equipamentos sem o devido salário correspondente à função, alguns há mais de um ano na situação irregular, foram arbitrariedades constatadas nos setores masseira linha 03, divisora linha 03, masseira linha 01, masseira, divisora e modeladora linha 05, embaladoras, descarte de inutilizados e embalagem linha 03.
O problema repetiu-se no turno da manhã, quando ajudantes rendiam o almoço dos responsáveis pelas três divisoras, a masseira linha 02 e a masseira, divisora e modelagem linha 05, bem como no forno; à tarde, a inadequação ocorria nas divisoras linhas 01, 02 e 03, nos fornos das linhas 01, 02 e 03.
A alta temperatura na planta fabril evidenciou a necessidade da confecção de novo laudo e adoção de medidas urgentes para minimizar o desconforto térmico, agravado após o início de obras e a retirada de insufladores de ar.
O sindicato apurou ainda que a remuneração por horas extras, referentes ao acordo de banco de horas dos setores administrativos, não vinha sendo paga ou compensada. Colaboradores do turno da noite, obrigados a chegar às 20:40h aos domingos, só recebiam 50% de horas extras, embora o início da jornada às 22:40h na segunda feira tenha sido acordado entre o STINPAN e empresa. “ Se a Bimbo precisava adiantar o começo da jornada para 20:40h aos domingos, deveria estar pagando 100% dos valores referentes a estas horas extraordinárias”, explicou Carlos Jorge.
Para agravar a situação, o STINPAN também identificou que no turno da noite não havia técnico de segurança e somente um supervisor (visto colocando pães no cesto por falta de outros colaboradores) cuidava da produção e da entrega de EPI´s. “A inadequação acontecia no turno mais produtivo, quando havia quatro linhas em operação”, alertou o sindicalista. No turno da manhã, um ajudante de produção deficiente auditivo operava a masseira linha 03, que só dispunha de alarme sonoro.
Colaboradores reclamaram da forma com que alguns supervisores mantinham o diálogo com as equipes, recheado de ameaças e agressividade. Segundo Carlos Jorge, com a sobrecarga de trabalho e a falta de pessoal, o descontentamento e o cansaço, o risco de acidentes no espaço fabril era iminente.
Os fatos foram notificados à gerente nacional de gestão de pessoas da Bimbo, Patrícia Victor Pigozzi. Por mensagem eletrônica, a gestora informou que estaria na planta carioca em data próxima e gostaria de agendar reunião com o representante do sindicato. Ante à evasiva, Carlos Jorge e Ronaldo Sales Lima, presidente do STINPAN, cobraram uma resposta imediata, a começar pela concessão de folga no dia 26 de março (sábado). Patrícia respondeu que todos os assuntos operativos deveriam ser tratados pela Gestão de Pessoas e Industrial da Regional RJ e informou que os colaboradores do 1º turno não seriam solicitados a trabalhar na madrugada de 26 para 27 março (Domingo de Páscoa).
Grupo BIMBO entre o discurso e a prática
O Grupo Bimbo, multinacional pertencente ao mexicano Daniel Servitje, é considerado o maior fabricante de pães do mundo, com pelo menos 156 fábricas. De acordo com a imprensa especializada, depois que Daniel assumiu a administração dos negócios da família em 1997, a Bimbo definiu a aquisição de diversas empresas do setor, como a Sara Lee na Espanha, Portugal, EUA e a maior panificadora argentina, a Fargo. Com a estratégia, a Bimbo tornou-se dona de 1/3 do maior mercado consumidor do mundo, a panificação, acumulando fortuna de U$$ 12,6 bilhões; já a riqueza pessoal do líder da Bimbo atingiu U$S 3,5 bilhões de dólares.
Em seu portal, a BIMBO destaca seu compromisso em “ser uma companhia altamente produtiva e plenamente humana, assim como inovadora, competitiva e orientada à satisfação total de seus clientes e consumidores”; no item Visão 2015, destaca, “somos um lugar extraordinário para trabalhar”.
Ao consultar o sítio, o leitor depreende que a Bimbo busca fortalecer uma imagem de preocupação com o meio ambiente, em servir um produto de qualidade para os consumidores, com a humanização do trabalho e das relações com o trabalhador, a quem denomina colaborador; em seu código de ética com os colaboradores, ela afirma “primar e garantir o respeito a sua dignidade, a sua individualidade e facilitar um ambiente seguro para seu bem-estar e desenvolvimento”.
Durante a vistoria na fábrica no Rio de Janeiro, o diretor do STINPAN, Carlos Jorge dos Santos Silva, verificou cartazes e mensagens afixadas nas paredes, destacando a visão e a ética do empreendimento em relação aos colaboradores, no entanto, as práticas impostas na planta fabril afetavam negativamente o trabalhador, que estava desmotivado e sem expectativas. “O que nós encontramos aqui é uma contradição, não condiz com os valores que a referida empresa apresenta nos seus quadros de avisos”, comentou Carlos Jorge.
O STINPAN voltou à fábrica no sábado 26 de março e fortaleceu a mobilização para que os problemas sejam solucionados, com distribuição de material informativo para os trabalhadores e pressão sobre os executivos da Bimbo, na sede em São Paulo e na Regional Rio.