O saboroso e tradicional pãozinho pela manhã está custando cada vez mais caro para o consumidor da região. Hoje é quase artigo de luxo. Há dez anos, o quilo do pão francês era vendido a R$ 3,40; nos dias atuais, se paga R$ 6,50 pela mesma quantidade – 91,17% a mais. A maior alta aconteceu entre abril de 2012 e este mês – diferença de 21,72%, ou R$ 1,16 a mais por quilo no bolso do consumidor do Grande ABC. O índice é maior do que a inflação oficial do País, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que acumula alta de 6,59% em 12 meses (março contra março). O levantamento foi feito pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) a pedido da equipe do Diário, com base nas padarias das redes supermercadistas. É bom ressaltar que o quilo do alimento entre as padarias da região beira os R$ 10 (R$ 9,59, em média).
O tamanho desse reajuste tem nome: o trigo. A política brasileira de dependência das importações de trigo para abastecimento do mercado interno mostra este ano seus limites diante da instabilidade da produção na Argentina – historicamente responsável por 80% das importações no País.
Segundo a AF News (agência de mercado da farinha e trigo), a área de produção da Argentina declina há vários anos em razão de sua política de privilegiar o mercado interno, o que restringe a disputa por trigo entre os moinhos locais e traders (especuladores que compram ações e as vendem em curto prazo visando dinheiro rápido), e reduz a rentabilidade para os produtores. Segundo o Ministério da Agricultura do país, na safra de 2012/13, a variação foi negativa em 15% em relação ao ano anterior; como consequência, a exportação para o Brasil encolheu 36% em volume nos últimos 12 meses.
“Para driblar os altos preços, o governo brasileiro, a partir deste mês, liberou a importação do trigo de outros países que não sejam do Mercosul sem que seja cobrada a alíquota chamada de TEC (Tarifa Externa Comum), de 10% sobre o valor da saca. A medida já começa a fazer efeito. Os preços de referência de exportação do trigo argentino sofreram redução de 6,25% nos últimos 30 dias, ao mesmo tempo em que o preço norte-americano (referência no cenário internacional) aumentou em 0,6%”, contextualiza Gabriel Ferreira, analista de mercado da AF News.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Panificação de Santo André e região, Antônio Carlos Henriques, se paga hoje R$ 86 por uma saca de 50 quilos, em média. “Para se ter ideia, uma padaria da região gasta entre 120 e 150 sacas por mês, sendo que cada saca de farinha produz cerca de 1.000 a 1.100 pãezinhos. A verdade é que estamos a mercê do mercado mundial, já que o trigo é uma commodity, como a soja e o etanol.” Henriques explica que 35% da composição do custo do pão vem da farinha de trigo. “É a principal matéria-prima.”
Com isso, os moradores das sete cidades já reduziram a compra do pãozinho. “Hoje, se leva a quantidade exata para o consumo, nada de comprar a mais e deixar para depois”, enfatiza Henriques.
Pesquisa da consultoria Kantar Worldpanel aponta que, no primeiro bimestre, todas as classes sociais no País diminuíram a quantidade de consumo de pães artesanais, como o francês, classificado entre os cinco itens alimentos que teve queda de compra.
Para os próximos meses a tendência é de que o quilo do pãozinho fique mais barato, devido a redução do valor do trigo. “Como os preços se elevaram, os produtores brasileiros se animaram e ampliaram a área de cultivo, assim como todos os países produtores do Hemisfério Norte. No Paraná, por exemplo, as lavouras cresceram cerca de 10%. A partir de agosto começa a colheita, e a expectativa é de que o preço tenha queda”, explica Ferreira.
Consumo do alimento cai nas panificadoras do Grande ABC
Com o aumento no preço do pãozinho e a mudança da rotina das famílias nos últimos tempos, a compra do pão francês diminuiu 35 pontos percentuais na última década, segundo o sócio-proprietário da rede Padaria Brasileira, com matriz em Santo André, Antonio Henrique Afonso Jr. “Antes, 75% das pessoas compravam o (pão) francês, hoje apenas 40%.”
Segundo ele, isso se deve não apenas ao preço, mas ao ritmo de vida das pessoas. “Antes, a fila na padaria era para comprar pão. Hoje, é para tomar café no estabelecimento. As pessoas passaram a fazer mais refeições fora de casa. Os clientes vão às padarias para almoçar, comer pizzas, lanches e sopas, por exemplo.”
Além disso, o empresário aponta a diversidade de produtos no momento da compra. “Hoje, temos pão de centeio, de grãos, integral, com recheio. É uma infinidade.”
CUSTO – O morador da região que vai ao mercado comprar os itens para o café da manhã gasta, em média, R$ 17,72. Desse total, o maior valor é gasto com o pão, cujo quilo custa R$ 6,50. Em seguida, está o pacote de café (500 gramas), vendido, em média, a R$ 6,13. O pote de margarina cremosa (500 gramas) é encontrado a R$ 2,86, aproximadamente. Por último está o litro de leite Longa Vida, comercializado a R$ 2,23.
Já para saborear o tradicional pão na chapa com pingado (leite com café) na padaria, o consumidor da região paga cerca de R$ 6,50.
FONTE: Diário do Grande ABC